quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Funções dos lenços de namorados

«Ainda não há muitos anos que, nas aldeias minhotas, um lenço de mão bordado era o primeiro penhor de afecto da rapariga pelo rapaz com quem namorava.
Na maior parte dos casos, ao que parece, ela própria marcava o lenço de Bretanha que comprara na feira. Nessa altura, servia-lhe o marcador ou mapa de ponto de cruz que tinha feito, em pequena, quando aprendera a bordar. Era um rectângulo de talagarça que a menina enchia de abecedários, algarismos e desenhos ornamentais, a fim de ter sempre à mão os modelos que lhe permitissem fazer outros bordados (mais modernamente, apareceram, para o mesmo fim, os álbuns impressos, que receberam os mesmos nomes). A rapariga casadoira guiava-se, pois, por um marcador ou por outros lenços que arranjava emprestados. Por isso, embora deixando correr a fantasia e o gosto próprios, a composição do seu lenço nunca se afastava muito da dos outros.»

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Os lenços de namorados tinham também a função de mitigar a dor da ausência

Desde sempre, os portugueses partiram: ou para ganhar o sustento noutro lugar, ou para a guerra, ou para embarcarem em navios na aventura da Expansão. Em casa ficavam as mulheres e as crianças. Mulheres sós, tristes, que trabalhavam a terra, fiavam o linho, amassavam o pão e iam vivendo de esperança.

Ora, na hora da despedida, em certas regiões do norte de Portugal, era “obrigatório” a rapariga apaixonada oferecer um lenço ao namorado. Lenço bordado por ela, com uma quadra da sua autoria. Se bordava com erros ortográficos, isso era pormenor insignificante, o que contava - e conta - são os sentimentos.

Depois dos abraços e beijos de despedida, o rapaz levava algo que lhe faria lembrar a amada distante. Este lenço era como uma carta, mas mais bela e quase indestrutível, bordada em linho fino, no qual - quem sabe! - algumas lágrimas masculinas cairiam nos momentos de maior tristeza. As cores e as quadras desses lenços são das coisas mais bonitas do nosso património artesanal bordado, pela sua autenticidade e ternura.

É principalmente na região do Minho que esses “lenços de namorados” têm a sua mais bela expressão. Houve-os bordados apenas a branco ou a negro, mas os mais comuns têm muitas cores e há desenhos “obrigatórios”. Nessa linguagem secreta, fique a saber que rosa quer dizer mulher, coração é amor, lírios simbolizam a virgindade, cravos vermelhos são sinónimo de provocação, e os pombinhos significam os namorados como não podia deixar de ser. Isto, só para fazermos uma breve ideia destes sinais de amor, pois há muitos mais.

in:
http://www.leme.pt/destaques/dia-dos-namorados/lencos.html

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Lenços de Namorados de Barcelos

Paulo Fernando Teles de Lemos e Silva, in:“ Bordados Tradicionais Portugueses

No concelho de Barcelos alguns lenços apresentavam uma decoração mais complexa do que a habitual, com barras de crivo e entremeios de croché, com lantejoulas, com fios dourados, etc., para além dos quatro lados do lenço onde se vê o escudo nacional encimado pela coroa Segue-se o ano, o nome da rapariga ou do namorado, desenhos como: jarra, cão, pomba, caçador, etc. e, paralelamente aos quatro lados do lenço, versos duma quadra e entre estes e as margens do lenço, uma ou mais cercaduras de silvas, ziguezagues, etc.

sábado, 27 de agosto de 2011

Carga Simbólica


A carga simbólica estava sempre presente; os bordados de corações e uma chave
significavam o amor de dois corações e a chave para esse amor.
Os lenços eram uma pequena peça decorativa do vestuário dos rapazes que estes
geralmente usavam aos domingos ou nas procissões das festas. Por sua vez, as raparigas
também usavam os lenços como uma prova de amor, ora o colocavam ao pescoço ora à cintura,
por uma das pontas.
Os lenços serviam também como pretexto para os rapazes meterem conversa com as
raparigas. Brincavam com elas, puxando-lhes
os lenços, chegando, por vezes, a roubar-lhos
para as provocar.

Paulo Fernando Teles de Lemos e Silva, in:“ Bordados Tradicionais Portugueses “

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Os cisnes nos lenços de namorados, testemunham a presença de lendas e tradições no imaginário das bordadeiras

Em grande parte dos mitos e das culturas espalhadas por todo o mundo, o cisne branco é um animal associado à pureza e à luz, enquanto que o cisne negro se associa ao oculto e ao misterioso. O cisne é ainda um animal que simboliza a fidelidade, a origem da vida e dos seres humanos, alternando entre o elemento feminino fecundado ou o elemento masculino fecundador.
A simbologia do cisne branco enquanto ser de luz e pureza pode ter duas manifestações, uma solar e masculina e outra lunar e feminina. Quando assume as duas facetas, a solar e a lunar, torna-se num ser mágico e misterioso. O cisne é em muitas tradições o símbolo da mulher e da virgem dos céus que em contacto com a terra e com a água dá origem aos seres humanos. Uma antiga lenda conta que um caçador encontrou um dia três mulheres muito belas que se banhavam num lago e que não eram mais do que cisnes despidos das suas penugens. Ao esconder uma dessas coberturas, o caçador impediu que uma das mulheres pudesse voar e casou-se com ela. A mulher-cisne deu-lhe muitos filhos e filhas antes de recuperar a sua plumagem e partir ao encontro dos outros cisnes.
Em outras tradições, como na Sibéria, o cisne é masculino e fecundador e por isso saudado com orações pelas mulheres que os avistam no princípio da primavera. Na antiga Grécia, o cisne macho era o acompanhante permanente de Apolo, o deus da beleza, da música e da poesia, cujo carro celeste era puxado por cisnes. No mito de Leda, o cisne tem também uma simbologia masculina já que Zeus se transforma em cisne para perseguir Leda, que lhe foge transformada em ganso, simbolicamente semelhante ao cisne fêmea.
No Oriente, o cisne é símbolo da música e da poesia, para além de representar a coragem, a nobreza, a prudência e a elegância. Na Índia, o cisne é montado pelo deus Brama, e simboliza a elevação espiritual. Na tradição celta, os espíritos do outro mundo regressam ao mundo dos vivos sob a forma de cisne. São os cisnes também os responsáveis por trazer as crianças ao mundo em muitas tradições. Os cisnes, enquanto casal, são um símbolo de fidelidade eterna, já que se unem para toda a vida e nunca substituem o companheiro morto. O canto dos cisnes é associado às juras de amor eterno e imortal.

(infopédia)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Lenços da mão bordados

Os lenços de mão bordados, autênticas obras de arte encontradas não só na região minhota, mas
também no Douro Litoral, de Trás-os-Montes, na Beira Alta, na Estremadura, no Alentejo e ainda nos Açores, segundo refere um escritor açoriano de nome Pedro Silveira. O costume que foi levado do continente por gente possivelmente originária da região do Minho, já que muitas das quadras encontradas têm muitas semelhanças com as do Minho. Os lenços estão carregados de simbolismo, são bordados pelas raparigas quase sempre a ponto de cruz, e significavam uma prova de afecto pelo rapaz com que namoravam.

Paulo Fernando Teles de Lemos e Silva, in:“ Bordados Tradicionais Portugueses “

À mulher do Minho estava entregue a vida doméstica porque o homem ia amanhar a vida longe, no mar, na Terra Nova, na América, no Brasil... Por isso, não admira que no namoro também tomasse a iniciativa!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os pombos-correio além de significarem o mensageiro, simbolizam também a fidelidade

De poucas letras, as moças que bordavam os lenços de namorados tinham a cultura que lhe advinha da tradição

O domínio da mulher minhota na condução das vivências

O ouro das vianesas
e os ritos de fertilidade

O ouro não é colocado ao acaso, livremente sofrendo a acção da gravidade. É preso ao vestuário, disciplinado, para que o peito fique uniformemente coberto. E o ouro surge-nos, assim, sob o formato de triângulo, de vértice para baixo.
Elas exibem o ouro faiscante ao peito e nas orelhas. Não se vêem anéis ou pulseiras, as mãos estão livres. Livres para o trabalho. O uso do ouro pelas vianesas tem significados ocultos.
Não se vêem anéis ou pulseiras, as mãos estão livres…
Que mulheres usam mais ouro?
- As noivas - vestidas de negro, A cor do poder.
- As mordomas - com uma vela votiva para acender a uma santa.
Quando observamos todo aquele ouro, disposto em triângulo, todo verdadeiro para nosso espanto, percorre-nos uma sensação de respeito, como perante uma visão sagrada e mítica.
Por que acontece isto no Minho e não noutras regiões do País ou até do mundo?
Porquê no Minho?
Tudo teria começado na Pré-história. O ouro seria usado por quem detinha poder. Antes de Cristo, testemunha Estrabão, as mulheres eram, no Noroeste peninsular, as detentoras da propriedade que a passavam por linha feminina. E esta, para mim, é a razão subterrânea do poder das mulheres do Minho, Já vem do fundo dos tempos.
Estrabão, autor romano que viveu no tempo de Cristo, entre c. 65 a.C. a 25 d.C., refere na zona cantábrica, abrangendo Minho e Galiza, uma espécie de “ginecocracia” (matriarcado). Diz que “todas as mulheres bárbaras trabalham a terra” e que o marido “está obrigado a dotar a mulher; e as filhas, que herdam delas, têm a obrigação de casar seus irmãos, o que constitui uma espécie de ginecocracia, ainda que não como regime político”.
As filhas, que herdam delas, têm a obrigação de casar seus irmãos.
Apesar de Estrabão ser do tempo de Cristo, ele seguia autores mais antigos, segundo Armando Coelho. “Estrabão, Apiano e Avieno, seguem crónicas, cartas de navegação e escritos geográficos gregos ou púnicos, e autores mais antigos, muitos deles bons conhecedores da Península, cujos textos originais se perderam...”.
Portanto, já no tempo dos Galaicos, dos castrejos, portanto, existia “uma espécie de ginecocracia” na região do Minho e Galiza. E os bens, tal como o ouro, eram passados por via feminina.
As minhotas vencem os tempos-
Foram os Romanos os primeiros a enfrentar a força das mulheres do Minho. Elas matavam os filhos para não pertencerem aos vencedores. Vestiam a roupa dos mortos e iam para a luta. Elas marcharam sobre o Porto, mataram o governador e foram mostrar para Braga a sua cabeça.
Mas a romanização venceu e retirou poder às mulheres. Os filhos passaram a ser do pai. Veio o Cristianismo e o poder das mulheres sofreu outro rude golpe. Acabaram as deusas (passou a adorar-se um deus masculino e único criador da vida). Acabaram as oficiantes (elas foram proibidas de tocar nas coisas sacras… e ainda hoje não são sacerdotes). Acabaram os ritos de fertilidade, a veneração das fontes…
Os Mouros, mais opressores que os Cristãos, permaneceram vários séculos na Península. Trouxeram a poligamia, retiraram às mulheres o espaço público, tornaram-nas invisíveis, taparam-nas com farrapos deixando-lhes só os olhos de fora.
No Minho, não se nota que os Mouros tenham feito “estragos” no poder das mulheres. Mas como essa opressão, tanto cristã como muçulmana, provinha sobretudo da religião, então as mulheres deram a volta e privilegiaram o culto da adoração a entes femininos – santas e Nossas Senhoras. E perverteram o sentido religioso da tristeza e sacrifício, em festa e alegria.
Uma particularidade interessante é que o ouro não era, nem é, usado só pelas mulheres ricas. As pobres, quando conseguiam uns tostões, investiam no seu cordão.
O ouro não era, nem é, usado só pelas mulheres ricas-
Nos Descobrimentos, muitos homens partem e as mulheres tomam conta da província. Renasce nelas o antigo poder de serem detentoras da propriedade. A Lei Mental e dos morgadios impõem-se. Tanto as riquezas públicas como os bens familiares são dados descaradamente aos homens com legistas, sábios e Igreja a concordar. A romanização, o Cristianismo, o domínio dos Mouros já as haviam despojado das riquezas e, agora, a Lei dá a machadada final – os bens passam de homem para homem e tinha de ser filho legítimo.
Renascem forças antigas, num tempo novo, forças subterrâneas, e a mulher descobre que o ouro, riqueza que vem da Pré-história, se pode contrapor à propriedade masculina.
Mas como fazer isso sem reacção social? A princípio ela não vai usar o ouro como riqueza, mas como algo de sagrado. Como um talismã para a sua própria fecundidade. Por isso é bem aceite por todos. Os cultos masculinos foram subtilmente substituídos por cultos femininos. A Sr.ª d’Agonia, de sofrimento extremo, reminiscência de um antigo culto à Lua, foi transformada na romaria mais alegre do País. E assim, com a ajuda do sagrado, de cultos femininos, da festa, as minhotas conseguiram enganar as leis e fazer reviver tempos anteriores à romanização em que os bens se transmitiam por via feminina.
O menir feminino – hino impar à fertilidade.
A “ginecocracia” de Estrabão é apoiada por vestígios arqueológicos. No Sul do País, encontramos menires fálicos. Mas no Minho, em Paredes de Coura e Ponta da Barca, encontramos menires femininos. A gravura mostra o de Paredes de Coura, serra de Bulhosa, com seios e colares.
Mas repare-se agora na cabeça da estátua. Nós dizemos “cabeça”, mas o que lá está não se assemelha ao formato normal duma cabeça humana nem de bicho. Não é arredondada, não tem crânio, nem olhos, nem boca, nem cabelo. Então o que significará? Se lhe retirarmos o volume, essa “cabeça” tem o formato dum triângulo, mas dum triângulo cónico, com o vértice para cima.
Camilo diz-nos que as mulheres trabalhavam no séc. XVIII e que investiam em ouro.
“O triângulo com o vértice para cima simbolizava o fogo e o sexo masculino; com o vértice para baixo, simbolizava a água e o sexo feminino e, pela sua semelhança com o púbis, está muito ligada a motivos de fertilidade”.
Portanto, o triângulo para cima assemelha-se à pujança da masculinidade necessária para a procriação e o “renascimento” da vida. É esse o sentido dos menhires fálicos do Sul, dizem, com uma intenção mágica de fertilidade, considerando o campo um útero.
O triângulo feminino nas jóias da minhota.
Em Lisboa, no Museu de Arqueologia, visitei, em Março de 2008, uma esplêndida exposição: “Ouro Tradicional de Viana do Castelo – da Pré-História à Actualidade”. Publicaram também um livro de apoio com o mesmo título(4). Tomo a liberdade de reproduzir algumas imagens desse catálogo, porque exemplificam a minha teoria.
A arrecada encontrada em Carreço data da Segunda Idade do Ferro (“Ferro Castrejo”). Reúne, tal como o menir de Paredes de Coura, os símbolos da fertilidade masculina e feminina. Foi comprada por Leite de Vasconcelos, por 237 000 réis, em 1905. Repare-se como essa jóia tem o triângulo de vértice para baixo, o ventre com 5 objectos redondos, como que fecundado, tendo no meio um espaço com o formato do órgão masculino – um hino à fecundação humana.
O Museu Arqueológico de Guimarães, Sociedade Martins Sarmento, guarda umas arrecadas dos séc. III a.C. - I a.C., encontradas na citânia de Briteiros. Repare-se no triângulo masculino para cima e no triângulo feminino, redondo, para baixo.
As arrecadas eram usadas pelas mulheres do povo. Camilo Castelo Branco, referindo-se a uma mulher do séc. XVIII, em 1750, de Póvoa do Lanhoso, diz no seu livro sugestivamente chamado “O Demónio do Ouro”: “Durante a longa doença de seu marido, Luísa vendera dois cordões e arrecadas, que em solteira ganhara na tecelagem, para suprir ao cirurgião e à botica”(5).
Por esta frase, Camilo diz-nos que as mulheres trabalhavam no séc. XVIII e que investiam em ouro, riqueza usada quando havia uma grande dificuldade na família.
D. António da Costa(6), refere em 1873:
“A primeira minhota que me surpreendeu foi uma lavradeira da freguesia de Deucriste… Das orelhas pendiam-lhe arrecadas resplandecentes, ao redor do pescoço um grilhão de oiro em cinco voltas...”
Portanto, no séc. XIX, era vulgar o uso quotidiano de arrecadas. O uso dos brincos à rainha impôs-se no final desse século.
Observemos agora o formato desses brincos - as arrecadas são circulares, tem outro círculo móvel dentro, e terminam com um triângulo com o vértice para baixo.
Vejamos agora uns brincos à rainha - sobressai uma parte redonda, como um ventre “germinado”, “fecundado”. Dentro, solto, vê-se uma roda mais pequena e móvel, que poderá significar o filho preso ligeiramente à mãe mas que é independente e sai do ventre. Designa-se bambolina, porque balança. E para terminar a jóia, voltamos a ver um triângulo invertido, símbolo do feminino pela semelhança com a púbis. Pode não ter havido essa intenção, mas tanto as arrecadas como os brincos à rainha, são um bom exemplo de uma manifestação de louvor, de culto talvez, um pedido para atrair dos astros e do sagrado a fertilidade para a sua portadora.
Mas já que falamos em triângulo com o vértice para baixo, símbolo feminino de louvor à fertilidade, comparemos agora as voltas da estátua menhir de Paredes de Coura e o ouro das vianesas ao peito. Três mil e quinhentos anos as separam, três milénios e meio! Em ambas as situações, tantos os riscos pré-históricos como a disposição do ouro das vianesas actuais, têm o formato dum triângulo com o vértice arredondado voltado para baixo. Como já se explorava o ouro na Pré-História, serão de ouro os colares do menir?
Ponhamos agora lado a lado uma inscultura encontrada no Lindoso, Ponte da Barca, com outra arcada do Norte de Portugal. Esse desenho lavrado na pedra é atribuído ao início da Idade do Bronze. Quanto à arrecada, é posterior, da Segunda Idade do Ferro. Constata-se perfeitamente a semelhança – o triângulo púbico, os orifícios, talvez boca e olhos, os círculos, os redondos dos seios e ventre. Portanto, talvez possamos concluir que o ouro tinha um significado, não era apenas um adorno.
O símbolo dos “SS”.
A Câmara de Vila Nova de Cerveira é proprietária de uma conta de brinco datada da época suevo-visigótica. Esta conta tem a particularidade de ser decorada com SS. Os SS são um motivo decorativo de diferentes jóias em ouro de Viana usadas ainda na actualidade.
O que significa esse SS?
O ouro é usado, embora de uma maneira inconsciente, como uma prece, uma perpetuação, um louvor à vida-

Segundo o conhecido ourives Manuel Freitas, são o desenho estilizado de dois patos a voar. Segundo este coleccionador, os patos são o “símbolo da união e da fertilidade conjugal, ao qual se junta, por vezes, a noção de força vital, pelo facto do macho e fêmea nadarem sempre em conjunto… Actualmente, estas formas aparecem nas arrecadas de Viana e nos brincos parolos (nos primeiros, em forma de “SS”, e nos segundos de forma explícita”.
A Vénus da algibeira e brinco.
E essa força mítica, que alia traje e ouro, continua a louvar a fertilidade feminina talvez inconscientemente. Imaginemos as estátuas de Vénus bojudas e grávidas da Pré-história. Comparemos agora com uma algibeira e com um brinco actual.
Quer dizer, de diferentes maneiras – menires, insculturas na pedra, arrecadas pré-históricas, brincos, traje – encontramos símbolos de fertilidade. E, de uma maneira única, encontramos a fertilidade masculina e feminina a par. Assim, no matriarcado, quando as mulheres detinham o poder, elas não anularam os homens. No patriarcado, os homens não anularam as mulheres. Segundo Frei Luís de Sousa, (c. 1619), os homens de Viana eram “mais que liberais”. Daí a singularidade duma província.
O ouro é usado ainda hoje, embora de uma maneira inconsciente, como um rito de fertilidade. Uma prece, uma perpetuação, um louvor à vida.

In: http://wordportugues.forumeiros.com/t1758-minho-ouro-de-viana-festas-de-nossa-senhora-da-agonia

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Breve história dos "Lenços de Namorar"

A tradição dos “Lenços de Namorados” remonta ao século XVII, e é um testemunho precioso da arte e da cultura popular.
Embora presente em várias localidades, é sem dúvida na região do Minho que esta “Arte de namorar” tem a sua mais bela expressão. Segundo reza a tradição a moça do Minho dedicava-se desde muito cedo a bordar, nas suas poucas horas vagas, depois do trabalho no campo. Quando atingia idade casadoira, bordava o seu lenço, a partir de um pano quadrado de linho fino ou de algodão, para oferecer ao rapaz que o seu coração escolhera, dando largas aos seus sentimentos mais íntimos. Se ele, no domingo, levasse esse lenço no bolso com a ponta de fora ou atado ao pescoço, era sinal de que aceitava o namoro, caso contrário a rapariga não era correspondida.
Os erros ortográficos são uma das características destes lenços pois as bordadeiras, moças do povo, pouco alfabetizadas, escreviam exactamente como pronunciavam.
Houve lenços bordados apenas a branco ou a negro, mas os mais comuns são muito coloridos e há desenhos “obrigatórios”, carregados de sentimentos amorosos.
Se hoje em dia, as formas de namorar são outras e bem diferentes, os Lenços de Namorados continuam a ser procurados pelos mais apaixonados e são, sem dúvida, um presente repleto de simbolismo.

Texto da Professora Isabel Sá, in: http://namorar09.blogspot.com/

Símbolos nos lenços dos namorados

Mota Leite escreveu que «a fidelidade está presente na representação da pomba e do cão, a ligação amorosa, na representação variada do par de namorados, na silva que significa a prisão amorosa e na chave que une os dois corações e, finalmente, o acto do casamento que está presente na representação de símbolos religiosos como a cruz, o vaso, a custódia e o candelabro».

O pentagrama no lenço dos namorados tem a ver com a antiquíssima simbologia desta estrela de cinco pontas.


As cinco pontas do pentagrama põem em acordo, numa união fecunda, o 3, que significa o principio masculino, e o 2, que corresponde ao princípio feminino. Por outro lado o pentagrama é a forma mais simples de estrela, que deve ser traçada com uma única linha, sendo consequentemente chamado de "Laço Infinito", que é proprio dos laços do casamento.

É interessante analisar a simbologia dos lenços de namorados por mais ingénua que pareça. Aqui sente-se a saudade ao vêr-se o pombo correio, a viola do fado, o moinho com a roda do tempo, o barco de regresso e finalmente o casal unido

domingo, 21 de agosto de 2011

Os temas dominantes são os sentimentos, mas os desenhos encerram símbolos

Às vezes o lenço não identifica o destinatário.

Lenço de namorado: o tema mais frequente é o dos afectos

LENÇOS DE NAMORADOS

O lenço dos namorados é um lenço fabricado a partir de um pano de linho fino ou de lenço de algodão, bordado com motivos variados. É uma peça de artesanato e vestuário típico do Minho, sendo usado por mulheres com idade de casar.
Era hábito a rapariga apaixonada bordar o seu lenço e entregá-lo ao seu amado quando este se fosse ausentar. Nos lenços poderiam ter bordados versos, para além de vários desenhos, alguns padronizados, tendo simbologias próprias.
Era usado como ritual de conquista. Depois de confeccionado, o lenço acabaria por chegar à posse do homem amado, que o passaria a usar em público como modo de mostrar que tinha dado início a uma relação. Se o namorado (também chamado de conversado) não usasse o lenço publicamente era sinal que tinha decidido não dar início a ligação amorosa.
É provável que a origem dos "Lenços de Namorados", também conhecidos por "Lenços de Pedidos" esteja intimamente ligada aos lenços senhoris dos séculos XVII - XVIII, que posteriormente foram adaptados pelas mulheres do povo, adquirindo os mesmos, consequentemente, um aspecto mais popular.
in: WIKIPEDIA